Monitoramento e relatórios – EC 1

Passadiços do Paiva

um estudo de caso fornecido por Arouca UNESCO Global Geopark, Portugal

Desde 20 de junho de 2015, a zona nordeste do Arouca Geopark beneficia de um novo projeto de infraestrutura turística, que tem permitido o contacto seguro dos visitantes com a natureza selvagem das margens do Rio Paiva. Este último esculpiu impressionantes feições geomorfológicas no Arouca Geopark e separa duas importantes montanhas: a Freita, a sul, e Montemuro, a norte. Além da paisagem espetacular, este rio é de valor nacional e internacional para a prática de esportes de aventura em corredeiras como rafting, caiaque e canoagem.

Os Passadiços do Paiva são um caminho de madeira, que se estende cerca de 9 km ao longo da margem esquerda do rio Paiva, entre a vila de Espiunca e a praia fluvial do Areinho. Este percurso atravessa uma área com cinco geossítios importantes (Desfiladeiro do Paiva, Cascata das Aguieiras, Vau, Salto e Falha Espiunca). Os geossítios fazem parte da Rede Natura 2000, permitindo o contacto com várias espécies importantes da fauna e da flora selvagens, algumas delas apresentadas e explicadas ao longo de nove painéis interpretativos ao longo dos passeios – os “biospots”. Um passeio pelos Passadiços do Paiva permite a observação desta particular geodiversidade e biodiversidade, bem como a prática de desportos de aventura. Também há dois mirantes com painéis interpretativos sobre as corredeiras de corredeiras, explicando sua origem geológica.

Fig 1: Passadiços do Paiva (fonte: Câmara Municipal de Arouca)

Os Passadiços do Paiva são geridos pela Câmara Municipal de Arouca e para acesso as marcações de percursos estão disponíveis online (www.passadicosdopaiva.pt). Vários serviços educacionais e turísticos estão sendo promovidos, proporcionando uma fonte crescente de oportunidades para o desenvolvimento de empresas comerciais e criação de empregos.

Inicialmente, os Passadiços do Paiva abriu sem venda de bilhetes e sem controlo de pessoas o que, sendo algo novo e inovador em Portugal, resultou num afluxo massivo de turistas, tanto que o Município de Arouca estimou em 2015 cerca de 300.000 visitantes. número de problemas na localidade que tiveram de ser resolvidos. A infraestrutura foi encerrada no final de 2015 e início de 2016 devido a um incêndio que destruiu parte do passadiço de madeira. Isso proporcionou uma oportunidade de reavaliar como gerenciar o número de visitantes, então quando a passarela reabriu em 2016 um sistema de reservas estava em vigor que limitava o número de visitantes, por dia, controlava o turismo de massa de uma forma muito mais sustentável e possibilitava a produção de relatórios estatísticos.

Fig 2: Back office do sistema de reservas online (fonte: Município de Arouca)

Somando-se aos estimados 300.000 visitantes em 2015, os Passadiços do Paiva já receberam quase 1.200.000 pessoas (Tabela 1), de todo o mundo, criando um grande impacto económico no Geoparque Global UNESCO de Arouca nomeadamente no sector do comércio turístico como alojamento, restauração comércio local, serviços e atividades de transferência. Como resultado deste impacto, os Passadiços do Paiva conquistaram, várias vezes, os World Travel Awards nas seguintes categorias: Europe’s Leading Tourism Development Project (2016, 2017, 2018 e 2019), Europe’s Leading Adventure Tourist Attraction (2018 e 2019) e Atração turística de aventura líder mundial (2018 e 2019).

Fig 3: Escada dos Passadiços do Paiva e Geossítio da Cachoeira das Aguieiras (fonte: Município de Arouca)
Tabela 1: Número mensal de visitantes dos Passadiços do Paiva por ano desde a implementação do sistema de vigilância e reserva (fonte: Município de Arouca)

O principal mercado emissor de bilhetes é, por proximidade, a Espanha, seguido da França. A Espanha representa 50% dos visitantes internacionais dos Passadiços do Paiva e a França 25%.

Em termos de visitantes intercontinentais, os Passadiços do Paiva recebem um número interessante de visitantes do Brasil e dos Estados Unidos da América.

Tabela 2: Origem dos visitantes dos Passadiços do Paiva por ano, desde a implementação do sistema de monitorização e reserva. (fonte: Município de Arouca)

A partir desses dados, uma análise detalhada foi realizada como parte da dissertação de pesquisa de mestrado de um aluno.

Visitantes internacionais dos Passadiços do Paiva 2017 – análise detalhada

Bernardo, V. (2018). Visitantes internacionais dos Passadiços do Paiva: motivação, experiência, satisfação e canais de distribuição. Dissertação de Mestrado: ESHT – Instituto Politécnico do Porto. 164 p.

Esta dissertação de pesquisa foi desenvolvida na forma de um estudo para compreender os motivos dos turistas internacionais visitarem os Passadiços do Paiva em 2018. Utilizou uma metodologia quantitativa por meio de survey por questionário, enviado via e-mail para 3.639 contatos contidos na base de dados do on-line reservas. Os objetivos específicos foram compreender os fatores que influenciam as motivações dos visitantes para visitarem os Passadiços do Paiva (fatores ‘Push & Pull’). Este estudo também analisou quais foram os principais canais de publicidade que mais atraíram visitantes internacionais. De acordo com a revisão da literatura, existe uma relação entre a motivação e a experiência, porém, neste caso, a satisfação diz respeito apenas aos domínios da estética e do entretenimento. As conclusões do estudo identificaram que os fatores de atração – a atração das passarelas – estavam intimamente alinhados com o motivo da visita.

As seções a seguir descrevem a amostra da população do estudo e os resultados de suas respostas às afirmações do questionário.

Perfil de amostra

A amostra do estudo é constituída por 204 turistas internacionais, que responderam ao inquérito, dos quais 47,5% são mulheres e 52,5% são homens. As idades variam, essencialmente, entre 25 e 64 anos, sendo as faixas etárias mais frequentes entre os 25-35 e 35-44 anos, com percentagens de 28,9% e 29,5% respetivamente. 67,2% destes visitantes possuem habilitações académicas de nível de mestrado ou superior e a percentagem mais elevada, 45,8%, auferem um rendimento mensal bruto individual, entre € 1.001 e € 2.000. Pela proximidade com o destino, Arouca Geopark, o mercado mais prevalente é o espanhol com 55,4%, seguido do mercado francês com 21,6%.

Tabela 3: Perfil da amostra (fonte: Bernardo, V. 2018)

Recursos de viagem

Relativamente às deslocações ao Arouca Geopark, e especificamente aos Passadiços do Paiva, o principal motivo da deslocação (92,2%) foi por férias. O Arouca Geopark foi o principal destino para 30,9% dos inquiridos. 92,6% indicaram que esta foi a primeira vez que visitaram a Passarela do Paiva e a maioria, 51,5%, viajou com a família. Em termos de tempo de antecedência com que reservaram a visita ao Passeio do Paiva, predominam os visitantes que reservaram menos de um mês antes da partida com 46,6% das respostas. De interesse é que 59,3% destes visitantes não pernoitaram em Arouca e, quanto à organização da viagem, 100% dos visitantes afirmaram que a organizaram de forma independente, sem recurso a agências de viagens e / ou operadores turísticos.

Tabela 4: Recursos de viagem

Motivações ‘push-pull’

Quando o estudo analisou a motivação dos visitantes internacionais que visitaram os Passadiços do Paiva em 2017, foi utilizada a teoria do Empurrar e Puxar.

Nos itens ‘Push’, a concordância média é maior para “Para experimentar algo diferente”, “Para refrescar minha mente”, “Para ficar com a família / amigos” e “Para me divertir”. É inferior para “Encontrar aventura e emoção”, “Praticar actividades desportivas” e “Os Passadiços do Paiva são uma atracção famosa”, embora todos os itens tenham um valor médio superior ao ponto médio da escala de medição.

Nos itens ‘Pull’, a concordância média é maior para as afirmações “Viver o ambiente natural e patrimonial”, seguida de “Visitar o Geoparque”, “Por causa da informação turística bem organizada”, “Por causa do clima adequado” e também “Por causa da gastronomia regional”.

Está mais perto do que outras atrações” e “Fazer trabalho científico”, são os itens com valor médio, este último se apresentando como inferior ao ponto intermediário da escala de medição.

Isso sugere que esses visitantes buscam diferentes experiências em um ambiente natural, e não necessariamente um feriado ativo. É reconfortante que os dados indiquem que a marca do Geopark está a ser reconhecida por um público mais vasto. Informações turísticas e outras ofertas, como a gastronomia local, também são atrativos que valorizam a experiência do visitante.

Tabela 5: Motivações de empurrar e puxar

Canais de distribuição

O estudo investigou também a forma como os visitantes interagem e a importância relativa das canais de distribuição quando pesquisam sobre os Passadiços do Paiva.

Em média, atribuem-se mais importância aos canais “Site Oficial dos Passadiços do Paiva” e “Sites com informação sobre os Passadiços do Paiva”, que apresentam um valor médio muito superior ao ponto médio da escala de medição. Seguem-se “Blogs, fóruns ou redes sociais” e “Recomendações de familiares e / ou amigos” com um valor médio próximo do ponto médio da escala de medição.

Brochuras sobre os Passadiços do Paiva”, “Anúncios e reportagens em jornais / revistas”, “Posto de turismo de Arouca”, “Guias”, “Emissões de Rádio e TV”, “Postos de Turismo (fora de Arouca)”, “Feira de viagens” e “Agente de viagens / operador turístico” têm um valor médio abaixo do ponto médio da escala de medição.

Tabela 6: Canais de distribuição

Experiência do visitante

No que diz respeito à experiência turística, esta foi analisada em termos de:

  • educacional,
  • escapista,
  • estética, e
  • entretenimento.

No domínio educacional, a concordância média é maior para “estimulou minha curiosidade em aprender coisas novas” e “Aumentei meus conhecimentos“, seguidos de “aprendi muito com a minha experiência” e “Foi um verdadeiro aprendizado“, todos os itens com um valor médio superior ao ponto médio da escala de medição.

No domínio escapista, a concordância média é maior para “Tive a oportunidade de relaxar” e “Esqueci totalmente minha rotina diária“. A seguir estão os itens “Eu me afastei de um ambiente social estressante” e “Eu fugi completamente da realidade”, itens com valor médio superior ao ponto médio da escala de medição. “Eu me imaginei morando em uma época e lugar diferentes” apresenta um valor médio próximo ao ponto médio da escala de medição.

No domínio estético, a concordância média é maior para “O caminho estava limpo” e “O cenário era muito atraente“, seguidos de “O caminho tem qualidade, perto da natureza” e “Senti uma verdadeira sensação de harmonia“, tendo todos os itens significam valores bem acima do ponto médio da escala de medição.

No domínio do entretenimento, a concordância média é maior para “Gostei do caminho”, seguido de “Diverti-me”, “Tive uma experiência inusitada”, “Interaja com outras pessoas” e, por fim, “Ver os outros actuarem foi cativante”, Com todos os itens tendo um valor médio superior ao ponto médio da escala de medição.

Tabela 7: Experiência turística segundo as considerações educacionais, escapistas, estéticas e lúdicas.

Satisfação

Por fim, no que se refere às questões relacionadas com a fidelização e satisfação dos visitantes, a concordância média é superior para “Foi uma boa decisão viajar para os Passadiços do Paiva”, seguida de “Vou dizer coisas positivas sobre os Passadiços do Paiva”, “Gostaria de visitar um local semelhante“, “Vou sugerir visitar os Passadiços do Paiva à minha família e / ou amigos“,”Esta visita valeu o meu tempo e esforço“, “Esta experiência de viagem excedeu as minhas expectativas” e ” Finjo revisitar os Passadiços do Paiva“, Com todos os itens tendo um valor médio bem acima do ponto médio da escala de medição.

Tabela 8: Lealdade e satisfação